Viajar sozinha sempre foi um desejo meu, mesmo antes de saber exatamente o que isso significava.
Sou uma mulher nascida nos anos 80. Naquela época, não havia redes sociais, TV a cabo era restrito, e não existiam tantas referências de mulheres viajando sozinhas. Ainda assim, desde muito cedo, eu sonhava em conhecer o mundo. Não sei exatamente de onde veio esse desejo, talvez tenha sido influência do meu pai, um executivo que vivia viajando pelo Brasil e acumulando milhas. Mas a verdade é que sempre senti que queria ver o mundo.

Onder tudo começou
Aos 12 anos, pedi à minha mãe para estudar inglês, isso eu tinha certeza que era mandatório para meu plano. E mesmo sem ter nenhuma referência próxima, decidi estudar hotelaria — porque achava que era um caminho possível para realizar meu sonho.

Mais tarde, consegui um estágio numa companhia aérea e, com o salário, comprei meu primeiro mochilão: eu faria minha primeira viagem internacional sozinha, para o Chile, aos 21 anos. Mas, poucos meses antes de embarcar, conheci meu ex-marido. Fomos juntos. Aquela não foi uma viagem solo, mas nos levou a outra grande experiência: moramos no Japão por um tempo.

Depois disso, viajamos juntos para muitos lugares. Mas, no fundo, eu ainda guardava o desejo de me aventurar sozinha. E quando nosso relacionamento terminou, eu fui colocar meu plano em prática.

O começo das viagens solo
Comecei explorando o Brasil — fui para o Norte e Nordeste. Depois embarquei para a África do Sul, já trabalhando remotamente. Foi uma viagem curta, então programei minha próxima: a Indonésia.

Viajar exige um esforço mental e logístico enorme. A gente precisa pensar em tudo: passagens, hospedagens, roupas, documentos… Mas também digo que, no fim das contas, só não pode faltar passaporte, visto e cartão de crédito desbloqueado — o resto se resolve.

Como mulher, ainda mais uma que ama moda, organizar a mala se torna um desafio à parte. Quero estar pronta para cada ocasião e me sentir bem nos meus looks — mesmo sabendo que levo coisas demais (risos).

Sem roteiros fixos
Quando eu viajava acompanhada, sempre me sentia na obrigação de montar um roteiro detalhado para que estivéssemos alinhados. Mas, sozinha, decidi fazer diferente: não tenho roteiro. Estudo o destino, vejo os lugares que quero conhecer e escolho onde me hospedar com base nisso.

Na Indonésia, por exemplo, cheguei ao país com tudo em aberto. Durante um voo doméstico, conheci um casal de espanhóis que iam fazer um passeio de barco por três dias num parque nacional. Na hora, decidi ir com eles. A agência já estava esperando no aeroporto. O detalhe? No barco, não haveria conexão. Tive que pedir internet emprestada no último minuto para avisar minha família que eu estava bem — e offline por uns dias.

Segurança e autonomia
Viajar sozinha como mulher exige atenção redobrada. Algumas regras que sigo:

  • Evito beber demais, para manter minha consciência e segurança.
  • Pesquiso sobre a segurança do país e da cidade.
  • Carrego pouco dinheiro vivo e prefiro pagar tudo no cartão.
  • Dou preferência para hostels com quartos femininos.
  • Estudo bem como chegar às hospedagens — transporte público, Uber, se é perto de estação ou aeroporto.

Mesmo com tantos cuidados, às vezes me coloco em situações de risco sem perceber. Já caí no clássico golpe de taxista na Ásia, mas, felizmente, nunca passei por algo realmente grave.

Nem sempre é fácil. Mas sempre vale.
Muita gente idealiza a viagem solo, mas preciso dizer: há dias difíceis. Tem cansaço, solidão, perrengue, saudade. Às vezes, o desejo de voltar pra casa bate.

Mas como dizem: a gente sempre volta outra pessoa. E isso é verdade. Cada viagem me mudou de um jeito único. Meu mundo interior se expandiu. Minha autonomia cresceu. E minha gratidão também.

Viajar sozinha foi, sem dúvida, a maior conquista da minha vida. E essa é só uma parte da história — ainda tenho muito mais para contar.