Nesta semana, o Brasil parou para acompanhar o resgate de Juliana Marins no Monte Rinjani, na Indonésia.
Uma brasileira, viajante solo, de 26 anos, que não voltou para casa para contar sobre a rica experiência que viveu durante sua viagem.
Mas somos muitas Julianas.
Somos mulheres que escolhem caminhos menos explorados, menos convencionais, e que precisam de força e coragem para acreditar em algo que a sociedade insiste em dizer que não é viável, nem seguro, nem recomendado.
Somos inundadas de medo:
Medo de sermos vistas como rebeldes.
Medo de não sermos desejadas por um homem.
Medo de não termos uma “carreira séria” por escolher viajar.
Eu não escalei o Monte Rinjani quando estive na Indonésia, mas sim o Monte Batur, que tem metade da altitude, mas também exige esforço, disposição e entrega.
Fui sozinha, acompanhada apenas por um guia local e outros quatro turistas que conheci antes da subida.
O tempo estava encoberto por neblina e, diferente do esperado, não vi o nascer do sol. Acabei apenas escalando (o Monte Batur tem 1.717 metros de altitude) — e, ainda assim, vivi algo único.
Desde o desfecho triste da história da Juliana, uma pergunta não sai da minha cabeça: se ela tivesse voltado viva, o que estariam dizendo?
Provavelmente ela viraria influenciadora, referência em viagens pelo sudeste asiático.
Talvez seus vídeos bombassem, com títulos como “Como é viajar sozinha na Indonésia” ou “Trilhas femininas que vão te transformar”.
Mas como a história dela não terminou como gostaríamos, o que vemos agora são notícias sobre negligência, perigos e julgamentos.
De repente, o que antes era coragem vira imprudência.
O que era liberdade, vira alerta.
O que era uma mulher vivendo intensamente, vira símbolo de cuidado e risco.
E isso me faz pensar o quanto ainda é frágil, aos olhos do mundo, o nosso direito de sermos livres.
Viajar sozinha é, sim, arriscado.
Mas viver presa em padrões, medos e expectativas também é.
A diferença é que, quando nos permitimos, encontramos uma beleza que nenhuma segurança pode oferecer: a beleza de viver com verdade.
A Guará nasceu desse lugar em mim — o mesmo que me faz comprar uma passagem só de ida para um destino desconhecido, escolher uma praia ao invés de um restaurante caro, vestir um biquíni que me encanta e sentir, de dentro pra fora, que estou exatamente onde deveria estar.
Meu e-commerce existe porque eu quis fazer diferente do que me disseram ser “o caminho seguro”.
A Guará é sobre mulheres que querem vestir o que acreditam que fica bem quando seus corpos estão à mostra — com segurança e sem julgamento.
É sobre viver do jeito que faz sentido pra você, sem medo de parecer errada só porque alguém te disse isso.
Sinto muito pela vida da Juliana.
Essa fatalidade não tem a ver com as escolhas dela — mas sim com questões maiores: organização, responsabilidade do turismo local e o real cuidado com os serviços oferecidos aos viajantes.
Que a gente possa honrá-la pela liberdade, coragem, planejamento e entrega.
Que a história dela nos lembre que mulheres livres devem ser admiradas — não questionadas.